A História da Alta Costura: Do Século XIX aos Nossos Dias

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Sumário

Ano após ano, Paris se torna o cenário vibrante dos desfiles de Alta Costura, onde o farfalhar dos tecidos reverbera pela cidade. Duas vezes ao ano, em janeiro e julho, a Cidade Luz se transforma em palco de uma celebração exclusiva da moda, atraindo a atenção global para as coleções apresentadas durante a semana da Alta Costura. 

Combinando tradição, excelência e arte, as criações magistrais revelam ao mesmo tempo sobre história e sobre inovação, mantendo vivo o espírito incomparável da Alta Costura.

 Imagem representativa de costureira elaborando vestido de Alta Costura.
Alta Costura: entenda a fascinante jornada da Alta Costura, desde suas origens no século XIX até sua relevância nos dias de hoje. | Foto: Freepik.

Alta Costura: O Surgimento de uma Nova Forma de Arte 

A Alta Costura como a conhecemos hoje nasceu no século XIX, em Paris, com o trabalho do estilista britânico Charles Frederick Worth. Considerado o “pai da Alta Costura”, Worth foi o primeiro a repensar o ofício de vestir mulheres ao estabelecer um sistema de moda onde os estilistas apresentavam coleções para suas clientes, permitindo que elas escolhessem os modelos desejados. 

Antes de Worth, as roupas eram feitas sob encomenda, sem que o criador ditasse o estilo. Charles, então, foi quem criou uma nova dinâmica, abrindo a primeira casa de moda em Paris em 1858, a Maison de Worth, localizada na 7 Rue de La Paix. 

Com a inauguração da casa de moda, o inglês transformou a cidade no epicentro da moda de luxo e da sofisticação – e, pela primeira vez, as mulheres francesas estavam conhecendo um novo desejo de consumo: designs encantadores, costuras em excelência e tecidos da mais alta qualidade. 

No passado, as roupas eram feitas de acordo com o pedido e necessidade de cada cliente, mas com o surgimento de Worth, essa dinâmica passou a ser diferente – Worth criava suas coleções e depois as apresentava. 

Durante esse período, ele introduziu a prática da etiqueta nas peças e foi o primeiro estilista a utilizar modelos para apresentar suas coleções. A partir de então, o uso dos manequins teve o início da sua obsolescência.

Ao entender essa nova psicologia do desejo que as coleções provocavam, Charles pensou e aplicou o conceito de desfiles de moda que, naquela época, eram realizados em salões privados para uma clientela exclusiva. 

Com isso, a Alta Costura passou a ser sinônimo de exclusividade, luxo e qualidade, atraindo membros da realeza e da alta sociedade. Desde então, a moda se consolidou como uma das linguagens de arte mais eloquentes e diplomáticas do mundo. 

As Regras da Alta Costura 

Para se consolidar como uma casa de Alta Costura, existem alguns critérios pré-estabelecidos historicamente. Um deles diz que os membros devem criar peças sob encomenda em um ateliê com no mínimo 15 funcionários em tempo integral, além de 20 trabalhadores técnicos permanentes em um de seus ateliês. Além disso, as coleções devem conter no mínimo 35 designs originais, abrangendo looks diurnos e noturnos, apresentados ao público em janeiro e julho, e criados para clientes particulares, exigindo várias provas de ajuste. 

A complexidade da Alta Costura é parte do que a constrói em toda sua glória. Mas, além disso, existe uma outra regra que precisa de mais contexto para ser compreendida em sua totalidade. Na sequência da Maison de Worth, outras Maisons que surgiram pela Europa e foram inspiradas por Worth, consolidaram o padrão de sofisticação e lapidaram a arte do vestir. 

Após a morte de Charles em 1895, seus filhos contrataram o assistente Paul Poiret que, em 1910 criou, à parte, a Câmara Sindical da Costura Parisiense. 

Durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto a França era ocupada pelos nazistas, Hitler identificou o potencial cultural de Paris e desejou levar a sede da Câmara para Berlim. Lucien Lelong, presidente da Câmara Sindical da Alta Costura, foi quem teve o ímpeto de impedir esse ato de forma indireta.

A partir dessa situação, em 1940, nascia a regra mais importante da Alta Costura: A Alta Costura só poderia ser produzida em Paris, especificamente no Triângulo de Ouro, delimitado pelas três avenidas de Champs-Élysées, Montaigne e Georges V. 

Na época, essa regra era criada para preservar a cultura e o patrimônio da França. No entanto, com o tempo, outras normas foram estabelecidas com o objetivo de tornar o trabalho da Alta Costura exclusivo, valorizado e centralizado, destacando-se por ser valioso, original e de alta qualidade. 

Influência da Alta Costura no Mundo Moderno

Com o tempo, a Alta Costura passou por transformações significativas. Desde a ascensão de estilistas como Christian Dior e Coco Chanel, a forma de criar, produzir e vender a moda sofreu grandes alterações. 

Dior, com o lançamento da coleção “New Look” em 1947, revolucionou a moda ao reintroduzir o glamour e o volume após os anos de austeridade da Segunda Guerra Mundial. Coco Chanel, por sua vez, transformou o conceito de elegância ao introduzir o tailleur e popularizar a ideia de roupas práticas e sofisticadas para o dia a dia das mulheres de bom gosto.

A Alta Costura também enfrentou novos desafios com o surgimento e ameaça iminente do prêt-à-porter. Ao contrário da Alta Costura, que produz peças sob medida, o prêt-à-porter oferece roupas de alta qualidade, porém em produção em massa, tornando-as mais acessíveis. Isso não eliminou a relevância da Alta Costura, mas a colocou em uma nova perspectiva. 

Grandes marcas como Yves Saint Laurent e Balenciaga equilibraram o trabalho na Alta Costura – após extrema resistência de Cristóbal Balenciaga – com coleções de prêt-à-porter, adaptando-se às demandas do mercado sem abrir mão da exclusividade.

Após esse período, a Alta Costura se consagrou de forma mais intensa como um mundo reservado à inovação artística e técnica, onde estilistas podem experimentar materiais, cortes e designs que dão vida a verdadeiras obras de arte.

Alta Costura: O Papel nos Dias de Hoje

Atualmente, a Alta Costura continua a desempenhar um papel crucial na moda contemporânea, pois ela é o símbolo máximo de luxo, criatividade e inovação. Embora o padrão de clientes da Alta Costura tenha sido reformulado, o prestígio associado a ela não foi reduzido. Marcas como Dior, Chanel, Valentino e Givenchy mantêm suas tradições e, ao mesmo tempo, reinventam-se para atrair as novas gerações.

Do ponto de vista econômico, a Alta Costura é um setor que provoca impacto cultural enorme. Os desfiles de Alta Costura, por exemplo, são eventos globais, transmitidos para milhões de pessoas, gerando desejo e consolidando tendências. Para além disso, os avanços tecnológicos e estilísticos que começam na Alta Costura, sempre serão responsáveis por influenciar diretamente as criações das coleções de prêt-à-porter e a direção futura do mercado de moda como um todo.

Quanto à cultura, a Alta Costura também reforça o valor da moda como arte. Ou seja, peças são vistas não apenas como roupas, mas como expressões artísticas: conceitos materializados, narrativas que ganham vida com bordados manuais, tecidos raros e construções complexas. 

Mesmo em um mundo onde a moda rápida domina, a Alta Costura é o lembrete de que a moda pode ser atemporal, desafiando as mudanças passageiras e mantendo viva a tradição de excelência. Hoje, a Alta Costura que começou no século XIX continua a ser sinônimo de luxo e exclusividade. 

Embora o mercado tenha mudado, a Alta Costura segue e seguirá ditando tendências e influenciando o mundo da moda, combinando tradição, excelência, inovação e arte de forma única. Neste universo, não basta apenas gostar de moda, pois a excelência é uma exigência. 

O ofício de criar roupas, então, vai além da simples confecção, tornando-se um compromisso com a ideia de que a Alta Costura é a verdadeira indumentária da arte. Mas para dominar a Alta Costura, o caminho para a excelência é o estudo. 

Descubra como aperfeiçoar suas habilidades de costura, modelagem e criação no universo da moda de luxo. Continue acompanhando nossos conteúdos inspiradores e dê o primeiro passo na sua jornada rumo à excelência na Alta Costura!

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